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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Jogo monocromático

Foto: Taís Pinheiro

A lista a que me dei o trabalho de fazer era longa e trabalhosa. Nela, catalogadas por ordem de partida, minhas peças ganhavam suas respectativas causa de morte.
Eu gostava daquele jogo incerto de silêncio.

Os peões já haviam sido mortos pela minha insegurança.
A cavalaria,lançada de antemão, tropeçou em minhas falhas de incapacidade.
Os bispos, por sua conduta unidirecional, ficaram presos às minhas torres de descrença, vulneráveis à crença dos bispos opostos ao jogo.
E como tudo que é vazio, um dia se desfaz, as torres simplesmente foram expulsas do jogo por uma única rodada da cavalaria real.

Foi assim, em um ponto quase perdido e descrente, que o silêncio, meu amigo das incertezas, escureceu o caminho do campo oposto.
Minhas duas peças monocromáticas carregadas de um misto de um sentimento incerto, se moveram pelo caminho inimigo expelindo pelo medo, quase todas as peças escurecidas erguidas naquele tabuleiro.

A euforia descompassada de ambos os lados quebrou o clima silêncioso aliado ao meu desentender.
Perdi a rainha, num lançe estúpido de um peão escondido no canto esquerdo.
O rei, sozinho, dois quadrados além do local da execução brutal, ficou cambaleando inutilmente ao redor do sangue invisível a procura do assassino.
Duas casas o separavam da foronteira inimiga após a vingança vil da companheira.

A rainha branca, erguida pelo pudor da vida, avançou seis casas.
O viúvo, recuou uma.
O bispo, em sua conduta pragmática, fechou uma aliança com o rei aliado, símbolo do controle de seu reino fragmentado.

O rei, ainda sozinho, recua mais uma casa.
A cavalria real volta em seu " L" de luxúria de forma a cobrir o traçado radial do viúvo que, desarmado, recua mais uma vez.
A torre intocável, move-se para um lugar sem conexão com a jogada.
O rei, abismado com a locomoção enorme daquela torre, não recua. Apenas muda de posição.

A rainha, exalando o sucesso da jogada, não se contém com aquele movimento estúpido curioso, e avança as oito casas que a distanciava daquela peça oca em seu território.
Sem poder correr sem morrer, o pequeno rei fica estagnado em sua posição indicada.

- Cheque-mate, ela diz.
- Mate o cheque, ele disse.

3 comentários:

  1. Genial!!! Muito bem pensado.
    Que bom que tu me encontrou! Fico feliz pra caramba, perdi muitos contatos, aos poucos vou encontrando e tbm me encontram. Não tenho publicado muito devido ao preparo do meu segundo livro, mas apareço sempre que posso no blog novo e visito outros. Obrigada pelo carinho é recíprico. Também desejo um ano de 2013 de muita paz, harmonia, saúde e sucesso e tudo de melhor. Um abraço com o meu carinho!

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