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A arte de sentir é a capacidade de se expressar.

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sinto

teu cheiro estranho em minha pele, mesmo depois da água quente levar embora a espuma por quase doze meses.
A cama nova com os lençóis antigos, mesmo sendo o berço de alguns prazeres com novos homens, ainda me castiga pela ausência do teu corpo junto ao meu.

Sinto teu cheiro estranho em meus livros, mesmo depois de tê-los guardado no armário do sótão.
Estou ainda renovando os estoques de papéis para rascunho, mas meus sentimentos secretos se desmancham em linhas velhas como um Suflair em boca salivante.

Sinto teu cheiro estranho em meu piano, mesmo sabendo que aquelas notas nunca foram compostas por ti.
As nossas músicas favoritas, antes encantadoras, agora esperneiam ao anoitecer, mesmo com minha cabeça tomada pelo álcool que era tão odiado por tua parte.

Sinto teu cheiro estranho em minhas refeições diárias, mesmo me acostumando com meus próprios temperos caseiros.
Aquele cheiro de café coado das manhãs de domingo, borbulham em meu copo novo que me lembra inoscientemente o teu jogo de camisas.

Sinto teu cheiro estranho em tudo que arrastei nesses últimos meses, mesmo sabendo que era necessário recriar meus votos.
Mas eu sei que nada disso me deveria ser estranho.
É só que tua estranheza me reconforta muito mais do que minha renovação.

Foto: Taís Pinheiro

3 comentários:

  1. Nossa que profundo!Tão doce e triste ao mesmo tempo...

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  2. aaa,nossa,você escreve super bem!amei seu toque sentimental e a forma como fechou o texto é perfeita.
    Seguindo.
    :*

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  3. Às vezes a ausência é extremamente presente.
    GK

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